sexta-feira, 3 de maio de 2013

O jeans azul desbotado


A senhora robusta entrou na sala de aula com o ar de importância que sempre trazia consigo. Não que alguém a considerasse realmente importante, mas todos a respeitavam (mais por medo da expressão carrancuda que a mulher trazia consigo, do que por ser merecedora de respeito), e isso só fazia inflar o seu ego.

Ela parou diante da classe, passou os olhos por cada aluno de cada fileira, sem realmente olhar para o rosto de qualquer um. Levou as mãos as costas. Sua pose assemelhava-a a um sargento, e todas as crianças que se afundavam em suas cadeiras, desejando se esconder da mulher perturbada, traziam no rosto a expressão que combinava perfeitamente com a situação. Uma certa curiosidade, um receio que beirava o medo, e a dúvida de sempre: ela conseguiria ser mais louca que da última vez?

Os braços da mulher se soltaram, e uma mão foi à boca com o punho bem cerrado, enquanto a outra ia parar dentro do bolso traseiro da calça alaranjada, que com nada combinava. O que era para ser um leve pigarro para começar a falar, se tornou uma crise de tosse, devido ao vício do cigarro que a mulher tinha desde que aquelas crianças do sétimo ano estudavam ali. Desde a época em que os pais daquelas crianças estudaram ali.

Por fim ela começou a falar com a voz baixa, rouca e com alguns acentos que arranhavam o ouvido, o que queria da classe. Como castigo pelo mal comportamento na formação daquela manhã, eles não teriam aula vaga. Fariam uma redação de 30 linhas cheias. E o tema... ah, o tema!

Todos os alunos, sem exceção, até os que tinha um medo absurdo da senhora vice-diretora, caíram na gargalhada. Todos tinham certeza de que era brincadeira. O tema era ridículo. Tinha que ser uma pegadinha. Porém todos concluíram que era aquilo mesmo, pela expressão furiosa da mulher. Ela era o tipo de pessoa que não suportava o som de risadas.

E pelo som da alegria que saíra das crianças pouco tempo antes, resolveu puni-los. Só saía da sala quem entregasse a redação. Não importa quem aparecesse ali para mandar eles saírem. E conhecendo aquela velha como conheciam, sabiam que ela não estava brincando. Era uma época distante. Ela podia fazer isso.

Ao fim da aula, o único papel que a diretora tinha em mãos era a redação de uma garotinha. Matilda Wormwood. E foi assim que Matilda foi marcada como aquela menininha em que a senhora gorda tinha que ficar de olho. Ela não era tão emburrecida quanto os outros. Ela era perigosa.

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